domingo, 1 de junho de 2008
Ser. Será?
Veja bem, as sensações são circulares, viver é jogar e negociar com o mundo nunca foi meu forte. Lendo Machado aprendi que também uso máscaras, inevitavelmente! E Clarice nos ensina que o tédio pode ser um bom pretexto. Mas perceber que nunca há um propósito me desanima. “Uma infinidade de possibilidades”... de que adianta quando o cansaço me invade? Posso até brincar de ser outra como sempre fazemos todas, mas isso é puro comércio existencial e adaptação ao barato me dá asco. Difícil, muito difícil ter coerência... Ontem 'coloquei gelo, comi somente a sobremesa, fui só fissura, mudei o padrão do tecido e fingi fazer sentido'. Até que foi bom! Hoje faz frio que dói e gosto de monólogos. Depois de levemente alcoolizada sempre há um babaca pra dizer que é tudo muito bom, gostoso e fácil. Perguntei: “Já colocou gelo alguma vez?” Ele achava que eu argumentava sobre a forma da garrafa e sua utilidade, percebi de cara que esse viverá anestesiado por escolha mesmo. É o líquido, essa porra desse líquido que vai se adaptar ao que EU quiser, mas é uma porra de um líquido de cevada, eu pensava. Só pensava. Nem dá vontade de ir pra cama, pedi outra garrafa. Ora... então tudo é natureza? Estamos numa estrada e num passe de mágica...buuum! nasce uma flor aqui, e continuo caminhando, e uma pedra brota ali, e alguém morre, e outro nasce, e se vende uma empresa, e se descobre um novo planeta, e a terra já não é mais terra, e tudo é água pois chove muito, e sinto sede, e muda a nova ordem, e choro com prazer, e uma briga acontece acolá, e mais um nasce, e outro morre, e faço sexo de-li-ci-oso com um, e outro brocha, e ela chora por não ser amada, e prendem um traficante, e mudo o corte de cabelo, e elas correm de bicicleta e ele do amor... então, tudo é natureza? Não estou aqui pra massagear o ego de ninguém, e não me dêem explicações sobre as suposições, pois eu quero o que vive de verdade! Na mesa do bar ontem havia um italiano que olhava com uma curiosidade infantil, tentando ler nas risadas, nas expressões, nos gestos o contexto daquele bando barulhento de pombos. Ele nunca existiu naquela mesa! Ele era a natureza gritando sem voz. Senti compaixão por aquela pedra. Mentira. Quis sentir compaixão para dar mais humanidade a mim mesma.