domingo, 29 de novembro de 2009

Em minha estante conceitual

Talvez a palavra que mais ilustre - "definir" é comum e limitador - seja encanto. O sorriso?, a voz ao telefone?, identificações culturais?, quem sabe até mesmo os [raros] encontros [geográficos, nesse caso] ?
Pois bem, compartilho esse inebriar. Revelo - também - o brilho nos meus olhos, inspiração, resgate ao inefável. Isso mesmo: onírico. Tudo em movimento suave, doce, aqui dentro. Nada muito diferente do projetar literário é essa, a sua representação: você me sugere palavras e junto, o silêncio. Tudo muito leve, calmo, brando e singelo. Quanto sentir, pouco a classificar. Página por página, folheando estímulos, aqui estás: (Você), meu livro.

Mozer Lopes

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ah... Fumarás demais!


(...beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suícidios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro o cheiro preciso dele (...) mas sabes, principalmente, com uma certa misericórdia doce por ti, por todos, que tudo passará um dia, quem sabe tão de repente quanto veio, ou lentamente, não importa. Só não saberás nunca que neste exato momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva.)

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Arrumando a casa

Nego-me aqueles que desfrutam de maneira oposta ao que eu manejo.
Amo as diferenças, todas!
Porém, descarto gente que transporta a ignorância: o ato de ignorar a existência de um outro “eu” do lado de lá da parede, da rua, do carro, da mesa, do edifício, da porta, do ônibus, do monitor...
Gente, gente, gente, gente...
Gente não me serve, gente não me apetece, gente não me atrai.
Onde estará o homem?
Faz-se necessário abrir a janela e deixar o ar circular.
Faz-se necessário arrumar a casa e jogar fora lembranças passadas.

Sem leviandades, sem dicotomias, sem divisão entre bom e mal, certo e errado.

Cobiço a coerência dos meus atos.

Meu universo interno, pleno chão e passaporte carimbado nessa selva, depois de muito pensar me diz: “gentileza, generosidade e cordialidade”

Isso é mais que o cantar de um pássaro em dias mortos de raciocínio.
Isso é carinho delicado e sutil como um orgasmo literário e tão gostoso quanto um orgasmo carnal.

Isso é a malícia natural antes, durante e depois do jogo, é o mapa açucarado para o prazer daqueles que apreciam o charme da sedução.

Minha prática da vida é tão terrena quanto a sua. Não há diferenças especiais até o limite exterior da matéria.

Demasiadamente humana em estado físico, mental, em atividades.

Não há verdade aguda que me diferencie, não possuo resposta original sobre as relações humanas.

Eu vivo. Às vezes, escrevo.

Portanto, obrigo-me a mover-me.

Está tudo assim: muita fumaça de andarilho, vários ajustes entre relações mal nutridas, comércios das boas aparências, discursos cozidos e temperados com o vai-e-vem da frieza, download-copie-e-cole do mundo high tech, excesso de fluxo inexorável de superficialidade e efemeridade...



Eu me refaço: “gentileza, generosidade e cordialidade”



Estava tudo desajeitado!
Arrumei a casa.
Agora estou pronta.

domingo, 15 de novembro de 2009

Tudo falso.

E na mesa ao lado...

Alguém:
Eu-mundo, eu-você, eu-pessoas, eu-amigos...Olha, não sei atuar... Aqui, tudo é verdadeiro, tudo respira. Você existe mesmo?
Outro:
Minha parte boa falhou, deixando a alheia brilhar, como sempre foi...Aprendi assim.
Alguém:
Porra! Agora fiquei cinco vezes mais reflexiva...Pode ser uma verdade.
Outro:
Perdeu a chance de impedir que eu falasse tanta besteira.
Alguém:
É foda... Minha mente fica frenética e a mão acompanha.
Outro:
É porque você não tem medo de emoções... Sério que você acabou com os guardanapos da mesa?
Alguém:
Quem não entende, tem medo, receio, que fique pra trás...Dane-se!
Garçom, por favor, traga mais guardanapo!
Outro:
...A gente tinha acabado de cantar fofo, poxa...
Alguém:
É...Você me faz rir...Não quer saber qual idéia tive?
Outro:
Você vai deixar eu ler esses guardanapos?
Alguém:
São idéias soltas...Não consigo acreditar no que escrevo...mas acho importante todas as mentiras que leio.
Outro:
Farei justiça com seus olhos, perante minha falta.
Alguém:
Essa coisa de pensar demais é que fode a gente...
Outro:
Posso pedir a conta?
Alguém:
Essa música lhe cai bem...
Outro:
Talvez amanhã...Você ta babando no copo?
Alguém:
Qual é o problema?
Outro:
Primeiro que não me sinto assim e segundo que nunca vi isso de nenhuma das pessoas do meu convívio.
Alguém:
Você ta tão óbvio hoje!
Outro:
Isso vicia...To viciado! Sempre agreguei o que colhia no caminho, era quase uma obsessão de transformar humanidades em parte de mim.
Alguém:
Posso pedir a conta?
Outro:
Posso pedir a conta?
Alguém:
Não quer saber qual idéia tive?
Outro:
Cada frase, cada parágrafo terá uma resposta...mas, por enquanto...
Alguém:
Sobre minha superioridade, digo que...cara...na boa...quem é você?
Outro:
Distância nojenta, inimiga.
Alguém:
Só queria dizer que te amei.
Outro:
Você ta babando no copo?
Alguém:
Detesto dependências de qualquer natureza. Amor, amor, amor...isso é mó Caô!
Outro:
Rima imbecil...isso não faz sentido!
Alguém:
Você é burro?
Outro:
Por gentileza, daria pra você parar de babar no copo?
Alguém:
Meu coração ta palpitando.
Outro:
Posso pedir a conta?
Alguém:
Dessa forma, quem acaba perdendo é você.
Outro:
Só queria dizer que te amei.
Alguém:
Eu te falei que perdi minhas luvas no banheiro do aeroporto em Curitiba?
Outro:
Suas mãos reclamavam com o vento e ele dizia que a culpa era da temperatura e não dele. Ora,ora.
Alguém:
Teria sido o vento que a levou para aquecer outras mãos?
Outro:
Vou babar no meu copo também.
Alguém:
Você não precisa marcar sua existência... “Até breve” eu pude ouvir pelo cano de descarga. hahaha
Outro:
Você é mentirosa e leviana...não dá pra ouvir o barulho do banheiro daqui.
Alguém:
Instante de escolha: o que fazer?
Outro:
Garçom, a conta, por favor.
Alguém:
Diga que me ama.
Outro:
Só queria dizer que te amei...essa coisa de babar no copo é muito esquisita.
Alguém:
Eu gosto de escrever para coisas mortas. Eu te falei que escrevi um texto de 10 laudas sobre meu armário?
Outro:
Segure nave louca que sou pedra rolando...
Alguém:
Quiçá despencando...
Outro:
Nesse movimento de agora.
Alguém:
Essa música é imbecil...não, não...você é imbecil.
Outro:
Há muita sinceridade convivendo com todas essas pessoas.
Alguém:
Esse bar nunca fica vazio.
Outro:
Você é tão imatura!
Alguém:
Hahaha. Chega! Habito um latifúndio onde cada metro quadrado era cultivado com a mais alta tecnologia, mas ainda assim percebo que ele é improdutivo.
Outro:
Você mora numa franqueza que está zoneada demais.
Alguém:
Ta dizendo que sou incoerente?
Outro:
Preciso me desapegar de pessoas, limar sentimentos inúteis. Não há regras, mas chegou o dia da limpeza.
Alguém:
Você quer fazer sexo comigo?
Outro:
Vamos embora?
Alguém:
Que no-jo! Eu babei no copo.
Outro:
Vamos!
Alguém:
Não segura minha mão...as pessoas vão pensar que a gente vai transar.
Outro:
Você, por favor, não seja você.
Alguém:
Só queria dizer que te amo.

- Garçom, por favor.
- Pois não?
- Esse senhor que acabou de sair daqui, esse que estava sentado falando sozinho, é doente mental?
- Não. É poeta.

Palavras Escrotas

Mas
Contudo
Entretanto
Todavia
Porém
(...)

A gente sempre sabe que o que vem depois delas é algo que não queremos ouvir.
Morte às adversativas em todas as línguas!

Aborto

Quando a mulher poderá ser dona do próprio corpo nesse país?

Amor e arte são palavras que não servem para nada

- Amor e arte são palavras que não servem para nada.
Ouvi essa frase na mesa de um boteco dentro da vila residencial na Ilha do Fundão. Lembro-me perfeitamente, era uma terça-feira fria.
O sujeito que disse isso – homem muito interessante, diga-se de passagem – justificou – embora, na minha opinião não precisasse – a frase com argumentos plausíveis. Afinal, cada um sente, vê, entende, se relaciona com tais palavras de maneiras diferentes, opostas, paradoxais, etc e tal. Sendo assim, de nada ou para nada as mesmas serviriam. Emudeci. Senti-me à vontade com meu próprio silêncio. Que comentário tecer diante da frase? Não possuía agulha, linha ou fios minimamente coerentes com o que penso. Mas o que penso mesmo sobre isso?
E lá se foram dias e dias...acordava pensando na porra da frase, dentro do metrô a mesma voltava: “próxima estação ‘amor e arte são palavras que não servem para nada”, cortando o bife lá estava, desenhada no prato como a “Medusa” de Vick Muniz. Ouvia e via a frase em plástica, sons e tons em praticamente tudo. Fiquei quase obsessiva.
Polêmica e discutível, claro, foi uma espécie de enxurrada reflexiva, o incômodo daquela calcinha apertada, a angústia que só o amor ou a arte proporcionam. Uma tisunami em quem se assume humana.
Creio que nunca pensei sobre o que é o amor, o que seria amar, muito menos para que serviriam. A arte é questão relativa e como diria uma amiga: “relativizando, tudo é viável”, e teorizar sobre as duas...xiii...tarefa inútil e por isso mesmo latente e viva.
Vamos por partes:
O Amor
É óbvio que serve para muitas coisas, uma infinidades delas, eu diria. Ou talvez não “sirva” para nada, mas sem ele – palavra infame no mundo high tech – sinceramente, eu já teria cortado os pulsos faz tempo. O amor não presta serviço(s) como um criado, não é essa a (i)lógica da coisa, nós (eu) é que nos servimos dele – um banquete!
Como poderia eu justificar essa merda de existência sem amor? Daí, entra Sartre e eu afirmo: sim, meu caro, essa é a minha opção, minha escolha, o senhor não fez a sua? Deixe-me em paz para a “condenação da liberdade”. O amor é a expressão mais honesta de liberdade, é a asa que me conduz diariamente até a cozinha todas as manhãs sem ao menos me perguntar se ela existe por que não a vejo, não a sinto. Ela está aqui, ele está aqui, mansinho, um gatinho cochilando que às vezes levanta as orelhas só para identificar o ruído exterior, voltando a moleza logo depois. Não reflito sobre a sua existência porque é natural como respirar e sem ele eu também não poderia viver. Não me refiro a esse amor burguês-cristão-ocidental, mas ao amor que só pode ser sentido, sem teorias.
Lembro-me agora do médico com a fatídica notícia no hospital:
- Kátia, a primeira cirurgia de drenagem não deu muito certo, seu quadro clínico não evoluiu, faremos outra cirurgia, vamos RETIRAR seu rim esquerdo.
Tomando soro pela jugular, pálida, magérrima, cabelos desgrenhados, resumindo: horripilantemente fudida, iniciei um choro com todas as forças que me restavam.
- Meu rim, porra, ele vai retirar meu rim, que merda!
Até então nem sabia que eu tinha rins. Quero dizer, saber eu sabia, todos sabemos, mas nunca havia atentado para sua existência.
Nunca pensei sobre o amor que me carrega, em suas patas, inconscientemente agarrada em seus pelôs sigo para não cair no abismo infinito que é sua ausência.
A frase naquela terça-feira fria foi o médico de anos atrás e a diferença é que prossigo sem o rim esquerdo, mas ‘sem amor eu nada seria’. A frase não me retirou as asas, não matou meu gatinho, apenas me fez pensar sobre. Não há conclusões viáveis sobre o intangível, continuarei na inesgotável amação. De vez em quando certas manifestações – uma melodia, uma ideia, um poema, uma pessoa - se encarregarão de alimentar o felino, ele acordará espreguiçando gostoso, gostoso, poderá brincar durante horas, dias, meses, anos, in-fi-ni-ta-men-te ou retornará ao sossego, sem perder o hábito de levantar as orelhas para a identificação de praxe...quem vai saber? E minha asa livremente me levando até a cozinha, ordinariamente, todas as manhãs.
A Arte
Para início de conversa arte é a completude transcendental obtida através da apreciação. A apreciação nos faz virar os olhos para dentro podendo consumir rapidamente as vísceras, o sangue ou somente fotografar o batimento cardíaco e que nos lança ao espaço, fora do ‘eu’.
Talvez possa apreciar esteticamente ou não, mas tem que me incomodar, ora! A verdadeira arte incomoda e desprende o espírito.
Significa muito para mim, não só as obras em si, mas a palavra, seu som, toda a articulação muscular necessária para pronunciá-la e seus inúmeros sentidos. A arte é sonho, é a beleza do inconsciente humano em manifestação, é a catarse que traz à tona o sentimento, seja ele qual for, é a expressão mais fidedigna do prolongamento existencial, da liberdade – assim como o amor.
Novamente volta a questão: serve para alguma coisa?
Serve para nos imortalizar enquanto indivíduos – não consigo pensar em nada mais poético do que o próprio pensamento.
A arte explica, confundindo,ao mundo o que é o ser humano e toda a suave complexidade da vida. Está lá, basta ler, ver, ouvir, sentir.. Os desavisados a olham sem vê-la, os arrogantes teorizam sobre ela, a descrevem, a definem como coisa em si ou as colocam no baú do anti, do não, a renegam para mais tarde, para outra geração. Então as crias dos mesmos dizem: “Eles, se enganaram...isso sim é arte!
Outros sequer pensam em sua existência, mas não percebem que seriam o não-ser sem ela.
Sem mais delongas:
A arte me salvou, me salva e me salvará.
Amém.