domingo, 1 de junho de 2008
Sem rótulos
Sabe, escrevo por inteiro.
Antes rejuntei os resquícios de uma noite que me talhou a carne, as lembranças... As não-palavras. Essas muitas palavras que ficaram inexecutáveis no único momento que gritaram por liberdade. Senti-me estranhamente feliz mesmo notando minha palavra emudecendo. Fui arremessada para fora de mim, para o mistério, fui obrigada a reler o ato de “encontrar-se”.
Pois é, eu nunca fui boa em traduzir o que sinto, embora seja através dessa mesma mudez que me reemposso quando, agora, digo que não consegui decodificar o estímulo que me lança para esta folha em branco.
Como justificar o ininteligível?
Isso tudo é uma tempestade de cérebro dilatada pelos sentidos e você verá que uma palavra mal tem a ver com outra.
(Preciso de um cigarro)
Olha para mim... Eu sou o que te escrevo (!) e sintonia fina é freqüência difícil de ajustar. Os argumentos são as horas e a exatidão com as quais me reordenei entre idas e vindas como lembrete-centelha recente e remota.
E acontece o seguinte: minha mão treme!
Esse conflito silencioso rebentando da necessidade de se manifestar me obriga a escrever (à parte isso, nada mais). Escrevo porque escrevo para você. Este manuscrito não tem propósito.
Tentei rabiscar estrofes e dar luz à poesia, dar luz à beleza sutil de quem faz versos como quem faz amor. Doce-tentativa-estéril. Não pude. A poesia só nasce quando se consegue dizer tudo dentro de uma pintura muda e delicada no sossego velado da arte. Eu tenho pressa, está tudo latente, assim poética e urgência são demais para uma só mulher. Preciso parir esse conjunto de frases trêmulas que você, sem querer, fecundou com uma enxurrada narrativa. Catei cada poeirinha de inspiração que você foi entornando pelo caminho, coloquei sobre as mãos, acariciei... E sopro em cima do que se segue.
Estou confusa.
Acho que escrever para você é falar demais, mesmo sem propósito.
Foda-se!
Sabe que gosto tem?
Engulo minha confusão e afirmo minha certeza: inevitável não te desejar. Conjugo os mesmos verbos que me causaram o espanto da sensação de agora. Nossa história não está mal resolvida, posto que os personagens sejam outros, o tema mais concreto, mas não menos impetuoso. Seriam registros de passagens? Tudo é novo, mas não menos instigante e o desejo pressupõe novas fronteiras, novas partilhas da natureza melódica que comungamos. O inexplorado nos sugere uma nova construção. Meus braços estão abertos, minhas mãos cheias de carinho e meus olhos transbordando de vontades.
Falo demais, não acha?
Sabe, nunca fui guiada apenas pela razão como você me disse certa vez, lembra? Você é a minha lembrança fortemente emocional, o desdobramento de reações intensas e inesperadas. Sou o reflexo do que você lê. Aqui, vida e morte, força e fraqueza, sensatez e loucura, são frutos do intuitivo-imediato. Fora de mim encontro abrigo. Dentro, fico a mercê do incêndio.
Entende que também estou em processo?
Estamos em processo.
Fato!
Você nos meandros de outra história que entendo e respeito, e eu com o pincelar de uma nova composição.
E acontece o seguinte: minha mão treme!
Não sei se te agradeço ou aborto o que (re)nasce dentro de mim!
Talvez o tempo te asfixie na minha memória, talvez ele seja generoso conosco!
Quem vai saber ?!?
Até lá, deixo o convite: pode entrar! Você é bem-vindo. Só não esqueça que a poesia é invisivelmente diluída nas vigas dos cômodos, não esqueça que arte é pintar, colorir nossas rubricas nos pilares, nas paredes, a cada novo dia. É dialético: mi casa, su casa. Não esqueça de fazer mimo nos móveis, embora meu metabolismo os tenha naturalmente lustrado com o espesso verniz da maturidade, eles são frágeis. Muita coisa mudou por aqui, mas o chão eu ainda limpo com a mesma essência e a confortável cama está com novos lençóis e com alguém querendo reinventar os significados do mundo ao seu lado. Está tudo bem diferente desde que você saiu. Suas coisas, suas marcas, estão bem guardadas nas melhores e mais altas prateleiras, mas tudo que não nos serve, a mudança levou.
Apoderando-me, em tempo: “fiquei apenas pensando que seu rosto parece com as minhas idéias”
(Preciso de mais um cigarro)
E tenho dito.
Antes rejuntei os resquícios de uma noite que me talhou a carne, as lembranças... As não-palavras. Essas muitas palavras que ficaram inexecutáveis no único momento que gritaram por liberdade. Senti-me estranhamente feliz mesmo notando minha palavra emudecendo. Fui arremessada para fora de mim, para o mistério, fui obrigada a reler o ato de “encontrar-se”.
Pois é, eu nunca fui boa em traduzir o que sinto, embora seja através dessa mesma mudez que me reemposso quando, agora, digo que não consegui decodificar o estímulo que me lança para esta folha em branco.
Como justificar o ininteligível?
Isso tudo é uma tempestade de cérebro dilatada pelos sentidos e você verá que uma palavra mal tem a ver com outra.
(Preciso de um cigarro)
Olha para mim... Eu sou o que te escrevo (!) e sintonia fina é freqüência difícil de ajustar. Os argumentos são as horas e a exatidão com as quais me reordenei entre idas e vindas como lembrete-centelha recente e remota.
E acontece o seguinte: minha mão treme!
Esse conflito silencioso rebentando da necessidade de se manifestar me obriga a escrever (à parte isso, nada mais). Escrevo porque escrevo para você. Este manuscrito não tem propósito.
Tentei rabiscar estrofes e dar luz à poesia, dar luz à beleza sutil de quem faz versos como quem faz amor. Doce-tentativa-estéril. Não pude. A poesia só nasce quando se consegue dizer tudo dentro de uma pintura muda e delicada no sossego velado da arte. Eu tenho pressa, está tudo latente, assim poética e urgência são demais para uma só mulher. Preciso parir esse conjunto de frases trêmulas que você, sem querer, fecundou com uma enxurrada narrativa. Catei cada poeirinha de inspiração que você foi entornando pelo caminho, coloquei sobre as mãos, acariciei... E sopro em cima do que se segue.
Estou confusa.
Acho que escrever para você é falar demais, mesmo sem propósito.
Foda-se!
Sabe que gosto tem?
Engulo minha confusão e afirmo minha certeza: inevitável não te desejar. Conjugo os mesmos verbos que me causaram o espanto da sensação de agora. Nossa história não está mal resolvida, posto que os personagens sejam outros, o tema mais concreto, mas não menos impetuoso. Seriam registros de passagens? Tudo é novo, mas não menos instigante e o desejo pressupõe novas fronteiras, novas partilhas da natureza melódica que comungamos. O inexplorado nos sugere uma nova construção. Meus braços estão abertos, minhas mãos cheias de carinho e meus olhos transbordando de vontades.
Falo demais, não acha?
Sabe, nunca fui guiada apenas pela razão como você me disse certa vez, lembra? Você é a minha lembrança fortemente emocional, o desdobramento de reações intensas e inesperadas. Sou o reflexo do que você lê. Aqui, vida e morte, força e fraqueza, sensatez e loucura, são frutos do intuitivo-imediato. Fora de mim encontro abrigo. Dentro, fico a mercê do incêndio.
Entende que também estou em processo?
Estamos em processo.
Fato!
Você nos meandros de outra história que entendo e respeito, e eu com o pincelar de uma nova composição.
E acontece o seguinte: minha mão treme!
Não sei se te agradeço ou aborto o que (re)nasce dentro de mim!
Talvez o tempo te asfixie na minha memória, talvez ele seja generoso conosco!
Quem vai saber ?!?
Até lá, deixo o convite: pode entrar! Você é bem-vindo. Só não esqueça que a poesia é invisivelmente diluída nas vigas dos cômodos, não esqueça que arte é pintar, colorir nossas rubricas nos pilares, nas paredes, a cada novo dia. É dialético: mi casa, su casa. Não esqueça de fazer mimo nos móveis, embora meu metabolismo os tenha naturalmente lustrado com o espesso verniz da maturidade, eles são frágeis. Muita coisa mudou por aqui, mas o chão eu ainda limpo com a mesma essência e a confortável cama está com novos lençóis e com alguém querendo reinventar os significados do mundo ao seu lado. Está tudo bem diferente desde que você saiu. Suas coisas, suas marcas, estão bem guardadas nas melhores e mais altas prateleiras, mas tudo que não nos serve, a mudança levou.
Apoderando-me, em tempo: “fiquei apenas pensando que seu rosto parece com as minhas idéias”
(Preciso de mais um cigarro)
E tenho dito.