quarta-feira, 28 de abril de 2010

O curioso

A curiosidade é um retorno à infância.

Tu veio naquela última exposição que teve aqui? Qual? Aquela de arte abstatra. De quem? Esqueci o nome do cara, mas eu tava outro dia, conversando com ele, porque eu sou muito curioso e gosto de entender das coisa, não é porque não tenho estudo que não vou querer saber, certo? Só curioso? Você é chato. É...tá, sou chato mesmo, então, eu tava conversando com ele e ele me disse que, ta vendo aquela parede ali? Qual, a amarela? É, ele tava me falando que o cara queria uma tela quase do tamanho daquela parede ali, não, um pouquinho só menor do que aquela parede ali, e que o curador disse que não dava pra fazer porque não tinha como carregar uma tela desse tamanho. Hummm...talvez pela logística complicada, mas não entendi, quem queria a tela enorme era esse tal artista que você não lembra o nome ou ele falava de outra pessoa? Presta atenção no que to te contando, presta atenção! vai acabar não entendendo a história, olha, o cara mandou fazer três telas para colocar uma do lado da outra pra parecer como se fosse uma tela só e ficar um pouquinho menor do que aquela parede amarela ali, só pra ele fazer um desenho, sem pintura, sobre a tese do Macumaímba, do nascimento dele, daquele cara, não sei se você conhece, Oswald de Andrade. Mário de Andrade, Macunaíma é personagem de uma obra de Mário de Andrade. É, isso mesmo, Oswald de Andrade era pai dele, desse da tese do nascimento do Macumaímba, tese do nascimento da miscigenação do Brasil, eles eram antropógolos, sabia? Bom, Mário era escritor e pesquisador de cultura popular brasileira, contemporâneo de Oswald que publicou o Manifesto Antropofágico e...Você vai ficar me interrompendo? depois eu é que sou o chato, tu fala pra caramba também hein, sei que tu tem que estudar pra explicar pras pessoa as coisa toda, mas deixa eu chegar onde quero chegar pra você poder entender, foi o próprio cara que me falou. Tudo bem. Desculpe. Então, o cara desenhou o Macumaímba assim, só desenho, sem tinta, e ficou lá, com o desenho do nascimento da miscigenação brasileira, até aí tudo bem, mas olha só como são as coisa no mundo da arte: o cara chamou o repórter da folha de são paulo que escreve no jornal falando bem do cara e tal, elogiando o desenho, e tu sabe quanto é que ta valendo esse desenho sem tinta depois que o cara escreveu isso? 1 milhão de dólar, agora olha esses trabalho aqui, 2 mil, 4 mil, ta muito barato, não tem valor, sabe porque? quem é que vai querer comprar isso? não tem tese nenhuma, desenho pintado de santo, de fazenda de cacau, desenho feio assim ninguém compra. Mas isso é arte Naif, o universo é esse mesmo, a poética é regional, popular...Tá, mas qual é a tese? Hã? Qual é a tese? o desenho sem tinta do Macumaímba é tese, pow...1 milhão de dólar!!! Arte não é tese! Ihh...já vi que tu não sabe de nada mesmo.