quinta-feira, 8 de abril de 2010
Idiossincrasia Anunciada
Agora sim! Ninguém pode mais reclamar de falta de água e esgoto na cidade – promessa cumprida.
Perdeu o carro na enchente, amigo? Ah...estragou o sapato no dilúvio? Teve que andar no esgoto, madame? Cinco horas dentro do ônibus?
Foda-se! Pessoas morreram. Famílias não têm mais onde morar.
Todos tiveram a mesma característica comportamental diante da tragédia anunciada na última semana no Rio de Janeiro: a corriqueira incompetência, a famigerada solidariedade e a histórica ignorância.
A imprensa nos bombardeando com as costumeiras imagens fortes.
Muito, muito triste.
A população comovida com o ocorrido – sim, é lamentável, sentimos muito todas as vítimas e seremos solidários, é claro, roupas, fraldas, colchões, alimentos não perecíveis... Precisamos aliviar a culpa de nosso torpor.
Estado de emergência. Luto de três dias.
O nosso governador, que mês passado fez festa na cidade para chorar os royalties de petróleo, de certa forma, culpou os moradores. Segundo ele, construir uma casa em área de risco seria uma postura suicida, algo inaceitável.
A culpa é de quem morreu? Mesmo?
Já o seu, o meu, o nosso Lula, filho do Brasil, disse que as autoridades competentes devem tomar uma atitude diante da situação.
Quem seria a autoridade competente em relação à habitação nessa cidade, nesse estado, nesse país, cara-pálida?
Mas o prefeito, homem muito lúcido, lamentou os mortos e pediu que os cidadãos evitassem circular, ficar-de-bobeira (flanar) nas ruas.
Detalhe: dentro de casa estava o perigo.
Pessoalmente não gosto do prefeito, contudo ele estava retirando construções irregulares em áreas de proteção ambiental. Mas há fiscalização? Deixar o camarada construir para depois demolir? É foda!
Não há política de habitação pública eficiente em nenhuma das camadas governamentais, nem municipal, nem estadual, nem federal.
Habitações irregulares continuam acontecendo. Repito: há fiscalização? Realocar as pessoas com dignidade onde? Mandá-las para o cafundó do Judas? Edificar outra Cidade de Deus?
Afinal de contas, de quem é a culpa? São Pedro?
Sabemos que o problema se arrasta desde muito tempo. A natureza é um organismo vivo, foi obrigada a comer muito lixo, beber muita besteira, ficou chapadona e não agüentou. Resultado? Vômito!
Não entendo de geologia ou geografia, mas pelo que sei todo morro é passível de deslizamento desde que a terra é terra! A área se torna realmente de “risco” quando as pessoas desflorestam tais terrenos para habitar.
Assisti na TV ontem um senhor que acabava de abandonar sua casa no Morro dos Prazeres:
“A gente sempre acha que não vai acontecer com a gente”
Pois é. Aconteceu.
Perdeu o carro na enchente, amigo? Ah...estragou o sapato no dilúvio? Teve que andar no esgoto, madame? Cinco horas dentro do ônibus?
Foda-se! Pessoas morreram. Famílias não têm mais onde morar.
Todos tiveram a mesma característica comportamental diante da tragédia anunciada na última semana no Rio de Janeiro: a corriqueira incompetência, a famigerada solidariedade e a histórica ignorância.
A imprensa nos bombardeando com as costumeiras imagens fortes.
Muito, muito triste.
A população comovida com o ocorrido – sim, é lamentável, sentimos muito todas as vítimas e seremos solidários, é claro, roupas, fraldas, colchões, alimentos não perecíveis... Precisamos aliviar a culpa de nosso torpor.
Estado de emergência. Luto de três dias.
O nosso governador, que mês passado fez festa na cidade para chorar os royalties de petróleo, de certa forma, culpou os moradores. Segundo ele, construir uma casa em área de risco seria uma postura suicida, algo inaceitável.
A culpa é de quem morreu? Mesmo?
Já o seu, o meu, o nosso Lula, filho do Brasil, disse que as autoridades competentes devem tomar uma atitude diante da situação.
Quem seria a autoridade competente em relação à habitação nessa cidade, nesse estado, nesse país, cara-pálida?
Mas o prefeito, homem muito lúcido, lamentou os mortos e pediu que os cidadãos evitassem circular, ficar-de-bobeira (flanar) nas ruas.
Detalhe: dentro de casa estava o perigo.
Pessoalmente não gosto do prefeito, contudo ele estava retirando construções irregulares em áreas de proteção ambiental. Mas há fiscalização? Deixar o camarada construir para depois demolir? É foda!
Não há política de habitação pública eficiente em nenhuma das camadas governamentais, nem municipal, nem estadual, nem federal.
Habitações irregulares continuam acontecendo. Repito: há fiscalização? Realocar as pessoas com dignidade onde? Mandá-las para o cafundó do Judas? Edificar outra Cidade de Deus?
Afinal de contas, de quem é a culpa? São Pedro?
Sabemos que o problema se arrasta desde muito tempo. A natureza é um organismo vivo, foi obrigada a comer muito lixo, beber muita besteira, ficou chapadona e não agüentou. Resultado? Vômito!
Não entendo de geologia ou geografia, mas pelo que sei todo morro é passível de deslizamento desde que a terra é terra! A área se torna realmente de “risco” quando as pessoas desflorestam tais terrenos para habitar.
Assisti na TV ontem um senhor que acabava de abandonar sua casa no Morro dos Prazeres:
“A gente sempre acha que não vai acontecer com a gente”
Pois é. Aconteceu.