quarta-feira, 28 de abril de 2010
O curioso
A curiosidade é um retorno à infância.
Tu veio naquela última exposição que teve aqui? Qual? Aquela de arte abstatra. De quem? Esqueci o nome do cara, mas eu tava outro dia, conversando com ele, porque eu sou muito curioso e gosto de entender das coisa, não é porque não tenho estudo que não vou querer saber, certo? Só curioso? Você é chato. É...tá, sou chato mesmo, então, eu tava conversando com ele e ele me disse que, ta vendo aquela parede ali? Qual, a amarela? É, ele tava me falando que o cara queria uma tela quase do tamanho daquela parede ali, não, um pouquinho só menor do que aquela parede ali, e que o curador disse que não dava pra fazer porque não tinha como carregar uma tela desse tamanho. Hummm...talvez pela logística complicada, mas não entendi, quem queria a tela enorme era esse tal artista que você não lembra o nome ou ele falava de outra pessoa? Presta atenção no que to te contando, presta atenção! vai acabar não entendendo a história, olha, o cara mandou fazer três telas para colocar uma do lado da outra pra parecer como se fosse uma tela só e ficar um pouquinho menor do que aquela parede amarela ali, só pra ele fazer um desenho, sem pintura, sobre a tese do Macumaímba, do nascimento dele, daquele cara, não sei se você conhece, Oswald de Andrade. Mário de Andrade, Macunaíma é personagem de uma obra de Mário de Andrade. É, isso mesmo, Oswald de Andrade era pai dele, desse da tese do nascimento do Macumaímba, tese do nascimento da miscigenação do Brasil, eles eram antropógolos, sabia? Bom, Mário era escritor e pesquisador de cultura popular brasileira, contemporâneo de Oswald que publicou o Manifesto Antropofágico e...Você vai ficar me interrompendo? depois eu é que sou o chato, tu fala pra caramba também hein, sei que tu tem que estudar pra explicar pras pessoa as coisa toda, mas deixa eu chegar onde quero chegar pra você poder entender, foi o próprio cara que me falou. Tudo bem. Desculpe. Então, o cara desenhou o Macumaímba assim, só desenho, sem tinta, e ficou lá, com o desenho do nascimento da miscigenação brasileira, até aí tudo bem, mas olha só como são as coisa no mundo da arte: o cara chamou o repórter da folha de são paulo que escreve no jornal falando bem do cara e tal, elogiando o desenho, e tu sabe quanto é que ta valendo esse desenho sem tinta depois que o cara escreveu isso? 1 milhão de dólar, agora olha esses trabalho aqui, 2 mil, 4 mil, ta muito barato, não tem valor, sabe porque? quem é que vai querer comprar isso? não tem tese nenhuma, desenho pintado de santo, de fazenda de cacau, desenho feio assim ninguém compra. Mas isso é arte Naif, o universo é esse mesmo, a poética é regional, popular...Tá, mas qual é a tese? Hã? Qual é a tese? o desenho sem tinta do Macumaímba é tese, pow...1 milhão de dólar!!! Arte não é tese! Ihh...já vi que tu não sabe de nada mesmo.
Tu veio naquela última exposição que teve aqui? Qual? Aquela de arte abstatra. De quem? Esqueci o nome do cara, mas eu tava outro dia, conversando com ele, porque eu sou muito curioso e gosto de entender das coisa, não é porque não tenho estudo que não vou querer saber, certo? Só curioso? Você é chato. É...tá, sou chato mesmo, então, eu tava conversando com ele e ele me disse que, ta vendo aquela parede ali? Qual, a amarela? É, ele tava me falando que o cara queria uma tela quase do tamanho daquela parede ali, não, um pouquinho só menor do que aquela parede ali, e que o curador disse que não dava pra fazer porque não tinha como carregar uma tela desse tamanho. Hummm...talvez pela logística complicada, mas não entendi, quem queria a tela enorme era esse tal artista que você não lembra o nome ou ele falava de outra pessoa? Presta atenção no que to te contando, presta atenção! vai acabar não entendendo a história, olha, o cara mandou fazer três telas para colocar uma do lado da outra pra parecer como se fosse uma tela só e ficar um pouquinho menor do que aquela parede amarela ali, só pra ele fazer um desenho, sem pintura, sobre a tese do Macumaímba, do nascimento dele, daquele cara, não sei se você conhece, Oswald de Andrade. Mário de Andrade, Macunaíma é personagem de uma obra de Mário de Andrade. É, isso mesmo, Oswald de Andrade era pai dele, desse da tese do nascimento do Macumaímba, tese do nascimento da miscigenação do Brasil, eles eram antropógolos, sabia? Bom, Mário era escritor e pesquisador de cultura popular brasileira, contemporâneo de Oswald que publicou o Manifesto Antropofágico e...Você vai ficar me interrompendo? depois eu é que sou o chato, tu fala pra caramba também hein, sei que tu tem que estudar pra explicar pras pessoa as coisa toda, mas deixa eu chegar onde quero chegar pra você poder entender, foi o próprio cara que me falou. Tudo bem. Desculpe. Então, o cara desenhou o Macumaímba assim, só desenho, sem tinta, e ficou lá, com o desenho do nascimento da miscigenação brasileira, até aí tudo bem, mas olha só como são as coisa no mundo da arte: o cara chamou o repórter da folha de são paulo que escreve no jornal falando bem do cara e tal, elogiando o desenho, e tu sabe quanto é que ta valendo esse desenho sem tinta depois que o cara escreveu isso? 1 milhão de dólar, agora olha esses trabalho aqui, 2 mil, 4 mil, ta muito barato, não tem valor, sabe porque? quem é que vai querer comprar isso? não tem tese nenhuma, desenho pintado de santo, de fazenda de cacau, desenho feio assim ninguém compra. Mas isso é arte Naif, o universo é esse mesmo, a poética é regional, popular...Tá, mas qual é a tese? Hã? Qual é a tese? o desenho sem tinta do Macumaímba é tese, pow...1 milhão de dólar!!! Arte não é tese! Ihh...já vi que tu não sabe de nada mesmo.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Seu blog
Kátia,
Sabe quado você tem um setimento que não consegue expressar, mas que está ali, gritando, sofrendo, chorando e você, sem saber o que fazer, entra em estado vegetativo em que vê, mas não enxerga, fala, mas não diz e escuta, mas não ouve?
Então, estava assim há alguns minutos atrás quando, de repete, me deparei com o seu blog e fui tomada pelo poder do verbo, do seu verbo.
Por instantes fui sugada para dentro de um túnel de significados que falavam para mim, diretamente para mim...
Agora, recuperada e inspirada, estou feliz e queria dizer que as suas palavras me fizeram enxergar e ouvir.
Adorei seu blog e adorei seus textos. Acho que agora olharei para os meus sufocados espasmos cotidianos pensando: "E se o amor vacilar?" / "Pois é, aconteceu".
Beijos carinhosos
Vivi - http://vividemoraes.blogspot.com/2010/04/espasmos-cotidianos.html
(vividemoraes@yahoo.com.br)
Sabe quado você tem um setimento que não consegue expressar, mas que está ali, gritando, sofrendo, chorando e você, sem saber o que fazer, entra em estado vegetativo em que vê, mas não enxerga, fala, mas não diz e escuta, mas não ouve?
Então, estava assim há alguns minutos atrás quando, de repete, me deparei com o seu blog e fui tomada pelo poder do verbo, do seu verbo.
Por instantes fui sugada para dentro de um túnel de significados que falavam para mim, diretamente para mim...
Agora, recuperada e inspirada, estou feliz e queria dizer que as suas palavras me fizeram enxergar e ouvir.
Adorei seu blog e adorei seus textos. Acho que agora olharei para os meus sufocados espasmos cotidianos pensando: "E se o amor vacilar?" / "Pois é, aconteceu".
Beijos carinhosos
Vivi - http://vividemoraes.blogspot.com/2010/04/espasmos-cotidianos.html
(vividemoraes@yahoo.com.br)
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Idiossincrasia Anunciada
Agora sim! Ninguém pode mais reclamar de falta de água e esgoto na cidade – promessa cumprida.
Perdeu o carro na enchente, amigo? Ah...estragou o sapato no dilúvio? Teve que andar no esgoto, madame? Cinco horas dentro do ônibus?
Foda-se! Pessoas morreram. Famílias não têm mais onde morar.
Todos tiveram a mesma característica comportamental diante da tragédia anunciada na última semana no Rio de Janeiro: a corriqueira incompetência, a famigerada solidariedade e a histórica ignorância.
A imprensa nos bombardeando com as costumeiras imagens fortes.
Muito, muito triste.
A população comovida com o ocorrido – sim, é lamentável, sentimos muito todas as vítimas e seremos solidários, é claro, roupas, fraldas, colchões, alimentos não perecíveis... Precisamos aliviar a culpa de nosso torpor.
Estado de emergência. Luto de três dias.
O nosso governador, que mês passado fez festa na cidade para chorar os royalties de petróleo, de certa forma, culpou os moradores. Segundo ele, construir uma casa em área de risco seria uma postura suicida, algo inaceitável.
A culpa é de quem morreu? Mesmo?
Já o seu, o meu, o nosso Lula, filho do Brasil, disse que as autoridades competentes devem tomar uma atitude diante da situação.
Quem seria a autoridade competente em relação à habitação nessa cidade, nesse estado, nesse país, cara-pálida?
Mas o prefeito, homem muito lúcido, lamentou os mortos e pediu que os cidadãos evitassem circular, ficar-de-bobeira (flanar) nas ruas.
Detalhe: dentro de casa estava o perigo.
Pessoalmente não gosto do prefeito, contudo ele estava retirando construções irregulares em áreas de proteção ambiental. Mas há fiscalização? Deixar o camarada construir para depois demolir? É foda!
Não há política de habitação pública eficiente em nenhuma das camadas governamentais, nem municipal, nem estadual, nem federal.
Habitações irregulares continuam acontecendo. Repito: há fiscalização? Realocar as pessoas com dignidade onde? Mandá-las para o cafundó do Judas? Edificar outra Cidade de Deus?
Afinal de contas, de quem é a culpa? São Pedro?
Sabemos que o problema se arrasta desde muito tempo. A natureza é um organismo vivo, foi obrigada a comer muito lixo, beber muita besteira, ficou chapadona e não agüentou. Resultado? Vômito!
Não entendo de geologia ou geografia, mas pelo que sei todo morro é passível de deslizamento desde que a terra é terra! A área se torna realmente de “risco” quando as pessoas desflorestam tais terrenos para habitar.
Assisti na TV ontem um senhor que acabava de abandonar sua casa no Morro dos Prazeres:
“A gente sempre acha que não vai acontecer com a gente”
Pois é. Aconteceu.
Perdeu o carro na enchente, amigo? Ah...estragou o sapato no dilúvio? Teve que andar no esgoto, madame? Cinco horas dentro do ônibus?
Foda-se! Pessoas morreram. Famílias não têm mais onde morar.
Todos tiveram a mesma característica comportamental diante da tragédia anunciada na última semana no Rio de Janeiro: a corriqueira incompetência, a famigerada solidariedade e a histórica ignorância.
A imprensa nos bombardeando com as costumeiras imagens fortes.
Muito, muito triste.
A população comovida com o ocorrido – sim, é lamentável, sentimos muito todas as vítimas e seremos solidários, é claro, roupas, fraldas, colchões, alimentos não perecíveis... Precisamos aliviar a culpa de nosso torpor.
Estado de emergência. Luto de três dias.
O nosso governador, que mês passado fez festa na cidade para chorar os royalties de petróleo, de certa forma, culpou os moradores. Segundo ele, construir uma casa em área de risco seria uma postura suicida, algo inaceitável.
A culpa é de quem morreu? Mesmo?
Já o seu, o meu, o nosso Lula, filho do Brasil, disse que as autoridades competentes devem tomar uma atitude diante da situação.
Quem seria a autoridade competente em relação à habitação nessa cidade, nesse estado, nesse país, cara-pálida?
Mas o prefeito, homem muito lúcido, lamentou os mortos e pediu que os cidadãos evitassem circular, ficar-de-bobeira (flanar) nas ruas.
Detalhe: dentro de casa estava o perigo.
Pessoalmente não gosto do prefeito, contudo ele estava retirando construções irregulares em áreas de proteção ambiental. Mas há fiscalização? Deixar o camarada construir para depois demolir? É foda!
Não há política de habitação pública eficiente em nenhuma das camadas governamentais, nem municipal, nem estadual, nem federal.
Habitações irregulares continuam acontecendo. Repito: há fiscalização? Realocar as pessoas com dignidade onde? Mandá-las para o cafundó do Judas? Edificar outra Cidade de Deus?
Afinal de contas, de quem é a culpa? São Pedro?
Sabemos que o problema se arrasta desde muito tempo. A natureza é um organismo vivo, foi obrigada a comer muito lixo, beber muita besteira, ficou chapadona e não agüentou. Resultado? Vômito!
Não entendo de geologia ou geografia, mas pelo que sei todo morro é passível de deslizamento desde que a terra é terra! A área se torna realmente de “risco” quando as pessoas desflorestam tais terrenos para habitar.
Assisti na TV ontem um senhor que acabava de abandonar sua casa no Morro dos Prazeres:
“A gente sempre acha que não vai acontecer com a gente”
Pois é. Aconteceu.
terça-feira, 6 de abril de 2010
III - De Ariana para Dionísio
.
A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavras
Paixão e veemência
E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.
A minha Casa te lamenta,
E manda que eu te pergunte assim de frente:
A uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta
Por que recusas amor e permanência?
.
(Ode descontínua e remota para flauta e oboé - Hilda Hilst)
Insônia
..............................."A noção do fim é moral" – Immanuel Kant.
Ouviu um sussurro iluminando dragões, príncipes, sapos, delírios de algumas lindas noites inabitadas (ou inabilitadas?), recordações despovoadas de sangue, monstros meticulosamente criados para seu conforto interno, príncipes meticulosamente arquitetados também para seu conforto interno; só lhe resta isso: a existência da realidade do sonho se esvaece. Nem os sapos mais existem. Seria o fim?
(Acendeu a luz)
Já sabia que não se cresce como mulher sem ter ao menos um homem canalha na vida, essa é a primeira lição aprendida assim que somos alfabetizadas do próprio corpo, desde o primeiro bê-a-bá da complexidade hormonal e mental que desfrutamos.
Real (mesmo) é a vida se manifestando e partindo dessa premissa ela já havia transcendido faz tempo: portando-se como um trator para deslocar de seu caminho machismos velados ultrapassou a si mesma com tamanha eloquencia que já estava morta. Nascem outras de sua morte, de tempos em tempos, a cada ciclo menstrual. Ela é apenas o resquício de si mesma.
(Voltou ao livro)
Há equívocos graves em vãos que deixou abertos nas paredes (o sussurro continua... vento-filho-da-puta!), assim permitiu que deixassem fissuras no seu verbo desejar, escangalharam seu verbo. Será que tem conserto?
(Fechou a janela do quarto)
Talvez precisasse se fechar mais em si mesma, reforçar o cimento das paredes, reformar anos e anos de estrutura... Ainda tem tempo. É. Houve um tempo que fora talhado, moldado em argumentos (re)criados com a única intensão da intensidade. Sem medo, sem rascunhos, ela desejava o que vivia de verdade, a feição descrita com belos adjetivos nos diários, o dilacerante, o vivo, o latente, porra! O “espantar-se” com a vida não voltou.
Hoje deseja apenas que a lembrança de quem foi um dia pare de incomodá-la, que a esperança de ver seu verbo consertado não a abandone. Seria o fim?
"Essa morte constante das coisas é o que mais dói" – tolice!
(Fechou o livro)
Todos em estado de letargia, pensou, todo mundo experimentando o trivial, o compreensível, quanta existência medíocre!
(Caminhou até a cozinha, abriu a geladeira e bebeu o resto de chá gelado)
Ser é pensar, e pensar e sentir são inseparáveis. Um dia conseguiria vencer a doença do pensamento, se curar da memória involuntária, embora sempre se sentisse certa das suas incertezas; acreditava, infantilmente, que um dia suas mãos se tornariam raízes.
(Apagou a luz)
Porquanto experimentando, dialogando com o implícito, flertando com a subjetividade, rejeitando o óbvio... É que uma bolha quente involuntariamente travou sua garganta, não que tivesse algo a dizer, mas tamanha é sua dignidade que o glóbulo de ar subiu até a cabeça e explodiu!
Um caldo borbulhando um monte de sensações indesejáveis escorre pela face, e abre o corpo ao meio: está nua, em carne viva.
(Cobriu-se)
Sem se preocupar, prossegue, tentando dormir – confusa, aprecia tudo que não faz sentido!
Lembrou-se de uma mensagem enviada por uma amiga na semana anterior:
..............“Nunca fique puta, nem triste,.........................
...............Se ficar, é capaz de até chover!......................
...............Um beijo.”............................................
E chove pra cacete desde ontem.
(zzzzzzzzzzz)
Talvez possa voltar a sonhar, um dia!
"Essa morte constante das coisas é o que mais dói"
...e a existência da realidade do sonho se esvaece!
Seria o fim?
Ouviu um sussurro iluminando dragões, príncipes, sapos, delírios de algumas lindas noites inabitadas (ou inabilitadas?), recordações despovoadas de sangue, monstros meticulosamente criados para seu conforto interno, príncipes meticulosamente arquitetados também para seu conforto interno; só lhe resta isso: a existência da realidade do sonho se esvaece. Nem os sapos mais existem. Seria o fim?
(Acendeu a luz)
Já sabia que não se cresce como mulher sem ter ao menos um homem canalha na vida, essa é a primeira lição aprendida assim que somos alfabetizadas do próprio corpo, desde o primeiro bê-a-bá da complexidade hormonal e mental que desfrutamos.
Real (mesmo) é a vida se manifestando e partindo dessa premissa ela já havia transcendido faz tempo: portando-se como um trator para deslocar de seu caminho machismos velados ultrapassou a si mesma com tamanha eloquencia que já estava morta. Nascem outras de sua morte, de tempos em tempos, a cada ciclo menstrual. Ela é apenas o resquício de si mesma.
(Voltou ao livro)
Há equívocos graves em vãos que deixou abertos nas paredes (o sussurro continua... vento-filho-da-puta!), assim permitiu que deixassem fissuras no seu verbo desejar, escangalharam seu verbo. Será que tem conserto?
(Fechou a janela do quarto)
Talvez precisasse se fechar mais em si mesma, reforçar o cimento das paredes, reformar anos e anos de estrutura... Ainda tem tempo. É. Houve um tempo que fora talhado, moldado em argumentos (re)criados com a única intensão da intensidade. Sem medo, sem rascunhos, ela desejava o que vivia de verdade, a feição descrita com belos adjetivos nos diários, o dilacerante, o vivo, o latente, porra! O “espantar-se” com a vida não voltou.
Hoje deseja apenas que a lembrança de quem foi um dia pare de incomodá-la, que a esperança de ver seu verbo consertado não a abandone. Seria o fim?
"Essa morte constante das coisas é o que mais dói" – tolice!
(Fechou o livro)
Todos em estado de letargia, pensou, todo mundo experimentando o trivial, o compreensível, quanta existência medíocre!
(Caminhou até a cozinha, abriu a geladeira e bebeu o resto de chá gelado)
Ser é pensar, e pensar e sentir são inseparáveis. Um dia conseguiria vencer a doença do pensamento, se curar da memória involuntária, embora sempre se sentisse certa das suas incertezas; acreditava, infantilmente, que um dia suas mãos se tornariam raízes.
(Apagou a luz)
Porquanto experimentando, dialogando com o implícito, flertando com a subjetividade, rejeitando o óbvio... É que uma bolha quente involuntariamente travou sua garganta, não que tivesse algo a dizer, mas tamanha é sua dignidade que o glóbulo de ar subiu até a cabeça e explodiu!
Um caldo borbulhando um monte de sensações indesejáveis escorre pela face, e abre o corpo ao meio: está nua, em carne viva.
(Cobriu-se)
Sem se preocupar, prossegue, tentando dormir – confusa, aprecia tudo que não faz sentido!
Lembrou-se de uma mensagem enviada por uma amiga na semana anterior:
..............“Nunca fique puta, nem triste,.........................
...............Se ficar, é capaz de até chover!......................
...............Um beijo.”............................................
E chove pra cacete desde ontem.
(zzzzzzzzzzz)
Talvez possa voltar a sonhar, um dia!
"Essa morte constante das coisas é o que mais dói"
...e a existência da realidade do sonho se esvaece!
Seria o fim?
Uma leitura
(Texto dedicado a um amigo)
Fevereiro de 2010.
Uma leitura possível sobre um personagem vivo.
*Teorizar nada mais é que um conhecimento especulativo, uma noção geral.
*A presente teoria não possui pretensões acadêmicas e restringiu-se apenas a superficialidade.
*O prefácio sobre personagem vivo foi desconsiderado por ter sido escrito pelo interlocutor.
* Partiu-se do princípio de que tudo significa, só depende do olhar.
Logo que nos abrimos para a leitura percebemos uma visão de mundo desapegada. Embora a natureza do personagem seja sensível e complexa, o desapego propicia um ponto de vista levemente distorcido sobre a realidade das relações.
Nas breves linhas em seqüência nota-se certas organizações de um universo interno que não aprecia invasões a sua privacidade física e emocional sem convite prévios.
Vale ressaltar que de acordo como o personagem negocia com o mundo é necessário articular docemente a possibilidade para uma permissão a escalada, já que em meio a tanta abertura aparentemente natural, o interlocutor é levado a crer na existência de um pote de ouro no cume da montanha (pura ilusão).
No decorrer de suas narrativas fica mais visível notar que a auto-permissão para determinadas dificuldades o perturbem internamente até decidir por qual direção deverá encaminhá-las. Contudo não possui pleno conhecimento sobre a sutileza do lado imaginativo de si mesmo, nem sobre o senso de humor deliciosamente irônico que não aparece facilmente – é necessária a ausência de ingenuidade e atenção na leitura.
Suas principais qualidades são: inteligência, esperteza e conhecimento cínico.
Seus principais defeitos são: tendência ao óbvio, falta de interesse na exploração do corpo feminino e ausência de gentileza em seu discurso.
Há um refinamento na alma e um charme misterioso em sua solidão interna que não permite entrada em seu campo psíquico.
Também não tem ilusões sobre a natureza humana, pois sabe que lá dentro de todos nós, mesmo que muito escondido há um lado obscuro. Entretanto, percebe que independente de quão confuso o mundo seja todos os seres humanos têm algo a fazer sobre isso. A partir daí entra a importância do trabalho - tem consciência que também é corajoso desistir.
Talvez busque encontrar a verdade sobre si mesmo através do social, ou a verdade da própria vida. O personagem é pensativo, e às vezes temos a sensação de que até demais. Necessita comunicar-se, mas observa demais o mundo para levar encontros “a luz da lua” a sério. Não confia em nada que seja imediato, incontrolável ou inexplicável – basta olhar de perto e as respostas saltarão. É descrente da beleza de tudo que não for aparentemente belo, ou seja, possui desejos superficiais.
A partir de seus gostos e vida profissional percebe-se que é um personagem tipicamente realista, ou seja, tende a percepção exclusiva do útil, do seguro, do conhecido.
Sendo assim, conclui-se que não se deu conta, ainda, que o conhecido não exclui necessariamente o vigor e a latência das coisas vivas; e que ainda será necessário comer muito arroz-com-feijão para ler com maestria a figura feminina. A partir daí, então, perceber a diferença entre Mulheres e meninas. Mulheres projetam nos Homens a figura de um companheiro e meninas projetam nos homens a figura de um pai.
Simples assim.
Fevereiro de 2010.
Uma leitura possível sobre um personagem vivo.
*Teorizar nada mais é que um conhecimento especulativo, uma noção geral.
*A presente teoria não possui pretensões acadêmicas e restringiu-se apenas a superficialidade.
*O prefácio sobre personagem vivo foi desconsiderado por ter sido escrito pelo interlocutor.
* Partiu-se do princípio de que tudo significa, só depende do olhar.
Logo que nos abrimos para a leitura percebemos uma visão de mundo desapegada. Embora a natureza do personagem seja sensível e complexa, o desapego propicia um ponto de vista levemente distorcido sobre a realidade das relações.
Nas breves linhas em seqüência nota-se certas organizações de um universo interno que não aprecia invasões a sua privacidade física e emocional sem convite prévios.
Vale ressaltar que de acordo como o personagem negocia com o mundo é necessário articular docemente a possibilidade para uma permissão a escalada, já que em meio a tanta abertura aparentemente natural, o interlocutor é levado a crer na existência de um pote de ouro no cume da montanha (pura ilusão).
No decorrer de suas narrativas fica mais visível notar que a auto-permissão para determinadas dificuldades o perturbem internamente até decidir por qual direção deverá encaminhá-las. Contudo não possui pleno conhecimento sobre a sutileza do lado imaginativo de si mesmo, nem sobre o senso de humor deliciosamente irônico que não aparece facilmente – é necessária a ausência de ingenuidade e atenção na leitura.
Suas principais qualidades são: inteligência, esperteza e conhecimento cínico.
Seus principais defeitos são: tendência ao óbvio, falta de interesse na exploração do corpo feminino e ausência de gentileza em seu discurso.
Há um refinamento na alma e um charme misterioso em sua solidão interna que não permite entrada em seu campo psíquico.
Também não tem ilusões sobre a natureza humana, pois sabe que lá dentro de todos nós, mesmo que muito escondido há um lado obscuro. Entretanto, percebe que independente de quão confuso o mundo seja todos os seres humanos têm algo a fazer sobre isso. A partir daí entra a importância do trabalho - tem consciência que também é corajoso desistir.
Talvez busque encontrar a verdade sobre si mesmo através do social, ou a verdade da própria vida. O personagem é pensativo, e às vezes temos a sensação de que até demais. Necessita comunicar-se, mas observa demais o mundo para levar encontros “a luz da lua” a sério. Não confia em nada que seja imediato, incontrolável ou inexplicável – basta olhar de perto e as respostas saltarão. É descrente da beleza de tudo que não for aparentemente belo, ou seja, possui desejos superficiais.
A partir de seus gostos e vida profissional percebe-se que é um personagem tipicamente realista, ou seja, tende a percepção exclusiva do útil, do seguro, do conhecido.
Sendo assim, conclui-se que não se deu conta, ainda, que o conhecido não exclui necessariamente o vigor e a latência das coisas vivas; e que ainda será necessário comer muito arroz-com-feijão para ler com maestria a figura feminina. A partir daí, então, perceber a diferença entre Mulheres e meninas. Mulheres projetam nos Homens a figura de um companheiro e meninas projetam nos homens a figura de um pai.
Simples assim.
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