sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
O ossudo da Praça da República
república
[Do lat. republica < lat. res publica, ‘coisa pública’.]
Substantivo feminino.
1.Organização política de um Estado com vista a servir à coisa pública, ao interesse comum.
2.Sistema de governo em que um ou vários indivíduos eleitos pelo povo exercem o poder supremo por tempo determinado.
3.O país assim governado:
Há no Rio de Janeiro, uma praça com o nome de “Praça da República”. Afinal de contas fatos históricos, de maneira geral, recebem nomes de praças e ruas. Ainda mais um golpe de estado organizado por membros da maçonaria que instalou a república e cortou definitivamente (?) a antiga monarquia brasileira, tirando do poder o então imperador D. Pedro II (dizem as más línguas que ainda tem um imperador de origem maranhense) em 15 de novembro de 1889. Tudo sem violência, com elegância, um acordo entre cavaleiros, eu diria, pois em 1888 com a abolição dos escravos não era mais interessante para a elite manter um regime monárquico. Falando em Pedro II, lembram-se dele? Grito do Ipiranga? Independência ou Morte?
Mas isso foi às margens do Ipiranga, e o que interessa aqui é o Ossudo da Praça da República do Rio de Janeiro. O local, que já foi palco de protestos em 1910 devido a Revolta da Vacina, no início dividia a cidade entre a área urbana e rural, hoje a “cidade nova” (parte rural) abriga o edifício da Prefeitura da cidade, ou, para os mais íntimos “o piranhão”. É curioso saber que um puteiro foi demolido para dar lugar ao prédio da prefeitura da cidade. Depois de ter sido atravessada ao meio pela Avenida Presidente Vargas, a Praça da República ou Campo de Santana tornou-se um lugar mais belo pondo fim ao antigo depósito de lixo e esgoto colonial no terreno baixo e alagadiço. No dia 8 de dezembro de 2009 pude presenciar um outro fato ocorrido na Praça, mas infelizmente não-histórico.
Todo o centro da cidade borbulha de gente, coisas e máquinas durante a semana e nesse dia eu estava incluída nesse molho. Caminhava da parte de trás da Praça para pegar uma condução na Avenida Presidente Vargas que me levasse à galeria dos correios, pois um grupo de 40 alunos chegaria para uma visita guiada. Como as minhas andanças (todas) têm trilha sonora eu caminhava enquanto tocava no mp3 a música “Favela”, do Rappa. Passei cantarolando pela esquina da Rua da Alfândega na calçada da Praça da República quando vi um homem pedalando uma bicicleta com uma cesta grande na frente. Chamou-me atenção somente porque ele estava na contramão de um trânsito já caótico às 14h e atrás dele uma moto também na contramão. Passando com certa dificuldade entre os carros que estavam no ritmo de marcha ‘primeira-segunda-para’, estavam a bicicleta e a moto no meio da rua, desviando dos carros! Estava quase chegando na esquina com a Presidente Vargas quando uma blaser da DRFA – Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis - entrou na rua, e no mesmo instante o trânsito fluiu e a música terminou. O motoqueiro começou a gritar: “Polícia, polícia, é ladrão aqui ó...é ladrão” Tirei os fones do ouvido e olhei em volta buscando o ladrão. Aliás, todos os transeuntes pararam para olhar. Os gritos pausaram os trajetos. A moto ultrapassou a bicicleta, parou próximo a blaser enquanto o rapaz gritava: “É ladrão, roubou a bicicleta, roubou a bicicleta do Hortifruti”. O homem que estava na bicicleta deveria ter uns 40 anos. Negro, ossudo, rosto cansado, olhos tristes, vestia uma bermuda azul e uma camiseta do Pan 2007. Olhei para a bicicleta. Era velha. Na cesta havia chuchu, alface, batata...Havia comida. Um policial saiu do carro com um fuzil na mão apontando para o homem na bicicleta. Ele parou. Eu fui dominada pelo medo, estava muito próxima deles. Senti medo do policial com a arma, medo do motoqueiro que gritava com ódio, e compaixão pelo ladrão da bicicleta velha. Sentindo medo e compaixão, eu assistia ao fato não-histórico. O policial revistou o homem que depois de um longo suspiro só disse uma frase: “Eu não roubei a bicicleta, tava fazendo um favor” Então levou o primeiro tapa na cara do policial. Virei o rosto para o lado e vi uma cutia pela grade da Praça. Lembrei que dentro do Campo de Santana há grande variedade de animais, até pavão tem lá. Voltei o rosto, os policiais haviam bloqueado a rua, o ossudo permanecia calado e o motoqueiro contava que o seguia desde o Hortifruti depois que o homem havia roubado a bicicleta com toda a entrega que outro rapaz faria e deu um soco no braço do homem. Uma mulher passou por mim dizendo: “Filho-da-puta! Bem feito! Vai passar Natal e Ano Novo na cadeira pra deixar de ser safado! Agora você vê...roubar verdura!” O policial o algemou. Virei o rosto para o lado e vi a mesma cutia. Lembrei de uma matéria que li no jornal, no dia das crianças, recomendando os pais a levarem seus filhos para conhecer as espécies de animais da Praça da República.
[Do lat. republica < lat. res publica, ‘coisa pública’.]
Substantivo feminino.
1.Organização política de um Estado com vista a servir à coisa pública, ao interesse comum.
2.Sistema de governo em que um ou vários indivíduos eleitos pelo povo exercem o poder supremo por tempo determinado.
3.O país assim governado:
Há no Rio de Janeiro, uma praça com o nome de “Praça da República”. Afinal de contas fatos históricos, de maneira geral, recebem nomes de praças e ruas. Ainda mais um golpe de estado organizado por membros da maçonaria que instalou a república e cortou definitivamente (?) a antiga monarquia brasileira, tirando do poder o então imperador D. Pedro II (dizem as más línguas que ainda tem um imperador de origem maranhense) em 15 de novembro de 1889. Tudo sem violência, com elegância, um acordo entre cavaleiros, eu diria, pois em 1888 com a abolição dos escravos não era mais interessante para a elite manter um regime monárquico. Falando em Pedro II, lembram-se dele? Grito do Ipiranga? Independência ou Morte?
Mas isso foi às margens do Ipiranga, e o que interessa aqui é o Ossudo da Praça da República do Rio de Janeiro. O local, que já foi palco de protestos em 1910 devido a Revolta da Vacina, no início dividia a cidade entre a área urbana e rural, hoje a “cidade nova” (parte rural) abriga o edifício da Prefeitura da cidade, ou, para os mais íntimos “o piranhão”. É curioso saber que um puteiro foi demolido para dar lugar ao prédio da prefeitura da cidade. Depois de ter sido atravessada ao meio pela Avenida Presidente Vargas, a Praça da República ou Campo de Santana tornou-se um lugar mais belo pondo fim ao antigo depósito de lixo e esgoto colonial no terreno baixo e alagadiço. No dia 8 de dezembro de 2009 pude presenciar um outro fato ocorrido na Praça, mas infelizmente não-histórico.
Todo o centro da cidade borbulha de gente, coisas e máquinas durante a semana e nesse dia eu estava incluída nesse molho. Caminhava da parte de trás da Praça para pegar uma condução na Avenida Presidente Vargas que me levasse à galeria dos correios, pois um grupo de 40 alunos chegaria para uma visita guiada. Como as minhas andanças (todas) têm trilha sonora eu caminhava enquanto tocava no mp3 a música “Favela”, do Rappa. Passei cantarolando pela esquina da Rua da Alfândega na calçada da Praça da República quando vi um homem pedalando uma bicicleta com uma cesta grande na frente. Chamou-me atenção somente porque ele estava na contramão de um trânsito já caótico às 14h e atrás dele uma moto também na contramão. Passando com certa dificuldade entre os carros que estavam no ritmo de marcha ‘primeira-segunda-para’, estavam a bicicleta e a moto no meio da rua, desviando dos carros! Estava quase chegando na esquina com a Presidente Vargas quando uma blaser da DRFA – Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis - entrou na rua, e no mesmo instante o trânsito fluiu e a música terminou. O motoqueiro começou a gritar: “Polícia, polícia, é ladrão aqui ó...é ladrão” Tirei os fones do ouvido e olhei em volta buscando o ladrão. Aliás, todos os transeuntes pararam para olhar. Os gritos pausaram os trajetos. A moto ultrapassou a bicicleta, parou próximo a blaser enquanto o rapaz gritava: “É ladrão, roubou a bicicleta, roubou a bicicleta do Hortifruti”. O homem que estava na bicicleta deveria ter uns 40 anos. Negro, ossudo, rosto cansado, olhos tristes, vestia uma bermuda azul e uma camiseta do Pan 2007. Olhei para a bicicleta. Era velha. Na cesta havia chuchu, alface, batata...Havia comida. Um policial saiu do carro com um fuzil na mão apontando para o homem na bicicleta. Ele parou. Eu fui dominada pelo medo, estava muito próxima deles. Senti medo do policial com a arma, medo do motoqueiro que gritava com ódio, e compaixão pelo ladrão da bicicleta velha. Sentindo medo e compaixão, eu assistia ao fato não-histórico. O policial revistou o homem que depois de um longo suspiro só disse uma frase: “Eu não roubei a bicicleta, tava fazendo um favor” Então levou o primeiro tapa na cara do policial. Virei o rosto para o lado e vi uma cutia pela grade da Praça. Lembrei que dentro do Campo de Santana há grande variedade de animais, até pavão tem lá. Voltei o rosto, os policiais haviam bloqueado a rua, o ossudo permanecia calado e o motoqueiro contava que o seguia desde o Hortifruti depois que o homem havia roubado a bicicleta com toda a entrega que outro rapaz faria e deu um soco no braço do homem. Uma mulher passou por mim dizendo: “Filho-da-puta! Bem feito! Vai passar Natal e Ano Novo na cadeira pra deixar de ser safado! Agora você vê...roubar verdura!” O policial o algemou. Virei o rosto para o lado e vi a mesma cutia. Lembrei de uma matéria que li no jornal, no dia das crianças, recomendando os pais a levarem seus filhos para conhecer as espécies de animais da Praça da República.